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No Arco da Porta de Um Dia
(Zé Geraldo / Paulo Neto / Tavares Dias)
Teus olhos de brilho rouco
a tépida voz denuncia
prendas pousadas de pouco
no arco da porta de um dia
Pérola acesa algum fosse
vagalume o outro seria
Olhar assim saltimbanco
e tão matinal sugeria
(à luz castiça da tarde)
madrigais em cantoria
O Pastor e o Leão
(Zé Geraldo)
Ei escuta aqui você aí
Meu senhor Guarda Livros Contador
Eu vim aqui fazer minha declaração
de renda
pro leão
Sou estrangeiro
naturalizado brasileiro
eu sou pastor por vocação
Sou sacerdote
isso mesmo eu vivo é disso
essa é a minha profissão
Tenho cadeia de hotéis no Hawai
Fazenda no Texas
Um sítio em Parati
O gado é de primeira muito bom
Automóveis do ano
Cobertura no Leblon
Triplex na Vieira Souto
Uma casa de praia na orla do Guarujá
Pra investir e garantir meu capital
Eu tenho na Bahia umas fazendas de cacau
Eu tenho poço de petróleo no Iraque
De araque caro irmão
Eu tenho frota de aviões
Frequento a bolsa de valores
de São Paulo Nova Iorque, Londres
Rio de Janeiro
Eu transo ações
Tenho uma grana aplicada
na Europa e na América
que é melhor não declarar
Pra encerrar as contas desse meu calvário
já que sou obrigado
eu declaro o meu salário
O meu salário não é feito
de tostões e de mil réis
Eu vivo da bondade e doações
dos meus fiéis
Avenca
(Aroldo Santarosa)
Uma vive e a outra olha
de cima pra essa imensidão
Num jardim não sei aonde
respira calma flor de um sonho
nascido aqui
Nesse quarto todo branco
onde lutas louca assim avenca
parida no seio de onde
respira a calma flor de um sonho
que espera aí
A nossa chuva molhando o jardim
dentro do corpo
dentro do outono
são flores de abril
A nossa chuva molhando o jardim
dentro do corpo
dentro do outono
dentro de mim
Meu Caminho de Nuvens Brancas
(Zé Geraldo)
Um bando de jovens abrindo as manhãs
São brancos, são negros, são todos iguais
Tal qual um pomar onde as frutas se encontram
Se cruzam fecundas, se tornam casais
A manhã se encontra com o entardecer
É um sorriso na boca, do céu feito cor
Um só prato alimenta o lobo e a ovelha
É a graça que marca os dias de amor
Olhando as pessoas com olhos de anjo
o louco se sente um feliz animal
Tão livre, tão solto, tão puro, tão leve
Despido do medo, da ira e do mal
É que as mãos do amor são brancas, macias
Assim como os lírios que brotam do chão
Não há quem abriu a cortina do peito
Que tenha esquecido a cor da paixão
Meu caminho de nuvens brancas
Meu caminho de nuvens brancas
Lua Curiosa
(Zé Geraldo / Cacá Bloise / Tavares Dias)
Moro naquela casinha
na beirada da lagoa
lá no pé do cafezal
Onde o Criador na alvorada
ensaia a passarinhada
num grande coral
Quando é bem de tardezinha
eu mais a morena minha
dá de namorar
E é coisa tão maravilhosa
que a lua curiosa
vem logo espiar
Dava Gosto
(Zé Geraldo / Tavares Dias)
... se Maria voltasse pra roda
se Papai Noel fosse mais sério
se o Estado não fosse abstrato
se os ferros não lapidassem carnes
se a Natura inteira voltasse então
nos azuis de um feliz beija-flor
... se crioulo não fosse suspeito
se a poesia seduzisse os muros
se ministro não prevaricasse
fantasias não gerassem culpas
se a direita desencaretasse o tom
se a mulher só desse quando quisesse
... se os andores não levassem santos
se colarinho branco fosse em cana
se os culpados um dia sacassem
que é bem mais nobre aceitar o perdão
Canções e Flores
(Zé Geraldo)
De mel é o sabor das lembranças
trazidas de minhas andanças
pra enfeitar sua saudade
Eu trouxe canções e flores
e um paraíso de cores
pra pintar sua cidade
Eu venho de campos e montes
e trouxe o cantar da fonte
pra dentro de sua janela
Noites de lua cheia
meu peito incendeia
pela moça mais bela
O que me prendeu por aqui
foi seu sorriso franco
e esse doce no olhar
Eu vim pra demorar bem pouco menina
agora eu quero ficar
Lua no Alforje
(Zé Geraldo / Tavares Dias)
Saudade bate chocalho
lá na copa da aroeira
bem domingo de manhã
Acorda sanhaço e gente
põe brilho no zói da gente
sacode o pé de romã
O rio corre na frente
cristalindo de contente
(vai preparar o banho de alecrim)
Conto um causo pra São Jorge
ajeito a lua no alforje
o coração na estrada e o pé no chão
porque daqui naquela paisagem
basta um dia de viagem
que eu faço a passo até sem perceber
Só quem visse de tardinha
quando o sol se enternecesse
é que podia entender
é tão mulher essa moça
que se um dia não nascesse
por Deus tinha que mandar fazer
ABC
(Zé Geraldo)
Nega que magia é essa que paira no ar do ABC?
Hoje é dia de encontro no paço
eu vou mais você
Na porta da fábrica
nos campos e becos
semeando os caminhos
A consciência brota em qualquer jardim
Na hora da volta do jogo da troca
sem crise sem mágoa
o suor do homem o faz maior
Quando pintar madrugada eu te espero
num barraco ou canto qualquer
Encosta esse corpo e descansa mulher
nossa força é coisa do céu
Eu fui povo um dia na Praça da Sé
marchei sobre o Vale a pé
Eu saí pra rua fiz piquete até
numa profissão de fé
Poema e Trova
(Zé Geraldo)
Vou plantar nessa avenida
um pedaço de canção
vou regar com minha vida
cada palmo desse chão
Semear poema e trova
pra colher seu coração
O meu verso é uma cova
no meio da plantação
Aroldo Santarosa: synthetizer GR700, guitarra, violões de 6 e 12
Luizão Bueno: guitarra, violões de 6 e 12
Fernandinho Melo: baixo, violões de 6 e 12
João Paulo: bateria e percussão
Zé Geraldo: ovation, em Canções e Flores e Lua Curiosa
Tony Bizarro, Flávio, Nadir e Vera: vocais
Em Lua Curiosa e Lua no Alforje: Sant'Clair (baixo) e Aloísio (Gaita)
Em Poema e Trova: Coral do Qualquer Nota (Tia Leci, Roberto, Menina Paty, Aroldo Santarosa, Ricardo clinicão Pupo, Paulo Juste, Eda, Vi, Grande, Carlos Rockstrote Prozzo, Magda, Carminha, Paulo Neto, João Paulo, Tavares, Sant'Clair, Samir, Italina, Deise, Asami, Anielisa, Aniela, Izilda, Zé Geraldo)
Agradecimentos
Dedicado ao Senhor Toninho Juste - Um Homem digno, um grande Homem