Na Barra do seu Vestido
(Zeca Baleiro / Zé Geraldo)
Qualquer dia desses vou descer as ruas
vou entrar nos bares
vou beber os mares
pra criar coragem e te procurar
vou pela Fradique cantando um bolero
feito um Valdick gentil e sincero
coração errante que só quer amar
desço a Purpurina onde a tarde brilha
sobre a minha sina sol e maravilha
com o peito em brasa
desejando brisa
na rua Harmonia escrevo um poema
o céu é um cinema
quando finda o dia
sou bailarino gira mundo
poeta sem endereço
assustado e vivido
um menino encantado
que sonha viver pra sempre
na barra do seu vestido
(Fradique Coutinho, Purpurina e Harmonia, ruas da Vila Madalena, bairro de São Paulo (SP), onde residem os autores)
Last Station Before New York
(Zé Geraldo)
Eu era menino
e puxava meus carrinhos pelas ruas
e como a maioria dos meninos brasileiros
alimentava o sonho de um dia
vir a ser caminhoneiro
rodar pelo estado
conhecer meu país
bater asas, ganhar o mundo
eu não sei onde foi que embarquei
só sei que quando acordei deste sonho
eu estava aqui NY
last station before NY
o dia tá quase chegando
na boleia do meu caminhão
enquanto esquenta o motor
eu tô parado do lado de cá da ponte
daqui dá pra ver a cidade acordando
sinto pulsar o coração do mundo
mas o cenário não é mais o mesmo
de quando eu cheguei
as torres não estão mais ali
intolerância , ignorância
a violência do homem quis assim
não dá pra parar
tenho que seguir
ainda trago muitas dores
que preciso resolver
outro dia mesmo eu chorei
caminhando pelo Central Park
eu chorei só de pensar na dor
de perder o meu amor
pra um plebeu ou para um rei
plebeus e reis
fariseus e gays
índios, amarelos
brancos, negros, moicanos,
pardos, mulatos, mestiços
malucos , mendigos, palhaços,
guerreiros de todas as tribos
aqui é a esquina do mundo
o mundo é de todos nós
na boleia do meu caminhão
em qualquer lugar
sou um cidadão
às vezes penso em voltar
às vezes penso em ficar
por aqui NY
last station before NY
Catadô de Bromélias
(Zé Geraldo)
Cansei da vida na cidade
meu diploma
minha faculdade perderam valor
desemprego chegou
vou voltar pro lugar
donde nunca eu devia ter saído
volto hoje um ilustre desconhecido
vou bater de porta em porta
procurar emprego
na porteira da fazenda
vou me apresentar
meu nome é José
sou carpinteiro
assim como José
o primeiro
eu faço alguns biscates
sei limpar lavoura sei catar café
eu ando a pé quantas léguas for
pra buscar qualquer coisa pro senhor
domingo de sol
levanto bem cedim
não vou ficar que nem na cidade
quando eu passava o dinterimbebim
vou entrar no mato
vou catar bromélias
pra enfeitar o seu jardim
de noite eu vou pro terreiro
tem mulher bonita
tem violeiro
quem sabe eu encontre um coração aberto
que ainda queira ter por perto
um catadô de bromélias
um simples sonhador
de paixão e alegria
vou fazer festa pra ela até romper o dia.
Última Reza
(Nô Stopa)
na última reza do dia
noturna oração
dormi sobre seu nome
sonhei seu sobrenome
mãos dadas com o meu
fincados desde a roupa
até a ponta da raiz
água morna molha a pedra
dura e fria
adormece sua ira
volte sua ida
bruta pedra
pra enfeitar o anel
o anel que tu me deste
era vidro e não se quebrou
segue intacto o amor
segue intacto o amor
Mr. Tambourine Man
(Bob Dylan / versão Zé Ramalho / adaptação Zé Geraldo)
Ei mr tambourine man
toca uma canção
tô sem sono e não tenho para onde ir
ei mr tambourine man
toca uma canção
que me deixe flutuando pelo mundo
nesta mágica viagem
que me leva pelo céu
entre estrelas de papel
pelo céu da minha boca vou cantando
em nuvens de fumaça
feito um novelo de lã
estou pronto pra partir
seja pra qualquer lugar
quero esquecer o hoje
e quem sabe o amanhã
ei mr tambourine man
toca uma canção
quero flutuar em notas pelo mundo
ei mr tambourine man
toca uma canção
tô sem sono e não tenho para onde ir
feito um lobo solitário
a vagar dentro da noite
pelos cantos onde eu ando
entre errantes e vadios
entre loucos delirantes
um bando de sozinhos
é com eles que eu divido
a minha solidão
é com eles que eu posso
abrir o coração
mostrar minhas fraquezas
falar da minha busca
perdido na multidão
à espera de um sinal
à procura de um olhar
que possa me mostrar de novo a direção
Ei mr tambourine man
toca uma canção
tô sem sono e não tenho para onde ir
ei mr tambourine man
toca uma canção pra mim
to sem sono e não tenho para onde ir
Encantamento
(Zé Geraldo)
o brilho no olhar
no primeiro momento
uma grande ternura
envolve o pensamento
às vezes é alivio
às vezes é tormento
um dia é sorriso
no outro é lamento
quando vira paixão
trás versos com o vento
é força para o corpo
pra alma é alimento
cresce e desabrocha
no mais forte sentimento
bem mais forte que a paixão
assim me disse o vento
mais forte que a paixão
é o encantamento
As Canções do Embornal
(Tavares Dias/ Zé Geraldo)
Saudade da estrada
da moça e da massa
da musa, do mano
da ginga e do gol
oh! Vida parada
sem rima e sem graça
à pé na estação
onde o trem já passou
mês que vem
que dia foi o que é que manda?
sem beijo na boca
sem verso e sem cor
a canção me ronda
me olha de banda
vai brotar na boca
de outro cantador
por todas as vilas
por todas as trilhas
por onde a amor
meu peito alumiou
um dia de novo
se encante o poeta
se faça de novo
o poeta um cantor
que as horas vividas
de mais claro prumo
por entre os extremos
do doce e do sal
me possam repor
esta lira no rumo
das canções que um dia
tirei do embornal
as canções do embornal
que um dia eu cantei
As canções do embornal
que ainda hei de cantar
Diário de Bicicleta (o dia que encontrei Che Guevara na zona em Valadares)
Eu vinha pedalando pelas ruas
da zona em Valadares
de repente
e ncontrei na esquina tomando umas
o Birú, Don Teixeira,
o Baleiro, o Crésio, o Tavares
um homem barbudo
com um cigarrinho
que passava de mão em mão
eu cheguei, me aproximei, tomei um trago
e falei: ô trem bão
e passei
o homem barbudo
contava historias de batalhas
falava de guerras, falava de paz
“hás de endurecer sem perder a ternura jamais”
saímos pela noite
dançamos, bebemos, fumamos
e andamos à esmo
por ruas esquinas e becos
e por ali mesmo
na porta dum boteco
um maluco cantava Raul Seixas
com um violão sem cordas
desfiava suas queixas
o homem barbudo tomou todas
se encantou com uma chica
e completamente borracho
pegou o violão e cantou
mi querida
pasé toda mi vida
a procura de ti
Yo soy un hombre sincero
Te quiero mucho, te quiero
Pero tengo que partir
o dia estava amanhecendo
os raios de sol escorriam pelas ruas
cada um de nós pegou sua bicicleta
o homem barbudo olhou serio pra mim e disse:
agora vou falar como tu, cara
meu nome é Che Guevara
esqueça o seu carnaval
vem comigo pra América Central
fazer a revolução!
e eu, assustado, medroso e cagão
falei: uai sô, vou não
uai Che, vou não
aqui ta ruim mas ta bão
tem frango com quiabo
tem mulher bonita
uma cachaça boa
meu time é campeão
vou não Che
boa sorte Che
uai sô, vou não
Porra Mano!
(Zé Geraldo)
Eu acredito piamente em Deus
não consigo mais acreditar nos homens
o homem
outrora único animal inteligente
se especializou em fazer guerras
invadir, matar, destruir
tanto faz
pelas ruas do oriente
numa esquina do ocidente
tanto faz
se mata em nome de Deus
se morre em nome da paz
eu vi no jornal e na televisão
um cidadão formado numa grande universidade
alto QI
eu vi
no jornal e na televisão
o cara mostrando sua ultima invenção
uma arma moderna com alto poder de destruição
pra que? Pra matar seu próprio irmão
eu acredito piamente em Deus
não consigo mais acreditar nos homens
cada dia mais e mais
mulheres, crianças, velhos e moços
defendem seu pão
arrastando carroças pelas ruas do país
e bem aqui embaixo do nosso nariz
um pobre coitado dormindo na rua
é atacado e morto a paulada
de tocaia em plena madrugada
porra mano
porra mano
A Fé
(Zé Geraldo)
Tá na prece do cristão
na festa do padroeiro
tá nas velas que iluminam
os caminhos do mosteiro
Acompanha os peregrinos
todo ano a Juazeiro
tá na roda das carretas
na cabine do caminhoneiro
Rola pelas rodovias
que nos levam a Aparecida
tá com a dona de casa
todo dia em sua lida
Muitas vezes explosiva
outras vezes reprimida
é a companheira do operário
em sua luta pela vida
Tá no verso do poeta
nas trovas do cantador
nas palavras do profeta
no peito do trabalhador
Tá no pranto de quem chora
na alegria e na dor
Tá à espera de braços abertos
no alto do Redentor
Tá na força do destino
nas ruas e na prisão
tá na festa do Divino
na fogueira de São João
No sorriso do menino
tá no gesto do ancião
tá na chuva na cidade
tá na seca no sertão
Tá na reza dos fiéis
no ato dos governantes
tá presente nos bordéis
no encontro dos amantes
Tá nos livros e papéis
na cabeça do estudante
na esperança dos que chegam
na ilusão dos retirantes
Muito dela tenho ouvido
e dela tenho falado
por ela se tem morrido
por ela se tem matado
Todo povo oprimido
não se esquece do ditado:
Povo que vive sem fé
é um povo abandonado
Na Barra da Saia do Seu Vestido
Jean Trad - violão
Tuco Marcondes - violão e dobro
Carlito Rodrigues - baixo
Carneiro Sândalo - bateria
Adriano Magoo - teclados
Last Station Before New York
Jean Trad - violão e guitarra
Hamilton Griecco - guitarra
Carlito Rodrigues - baixo
Carneiro Sândalo - bateria e percussão
Adriano Magoo - teclados
José Carlos Coveli - violino
Vocal - Tata Fernandes; Nô Stopa; Jean Trad e Carneiro Sândalo
Catadô de Bromelias
Zé Geraldo - violão
Jean Trad - violão
Carlito Rodrigues - baixo
Carneiro Sândalo - percussão
Adriano Magoo - acordeon
Última Reza
Jean Trad - violão
Carlito Rodrigues - baixo
Carneiro Sândalo - percussão
Adriano Magoo - acordeon
José Carlos Coveli - violinos
Tata Fernandes e Nô Stopa - Vocal
Mr. Tambourine Man
Jean Trad - violões
Hamilton Griecco - gaita
Carlito Rodrigues - baixo
Carneiro Sândalo - bateria
Adriano Magoo - teclados
José Carlos Coveli - violino
Vocal - Tata Fernades, Nô Stopa, Jean Trad e Carneiro Sândalo
Encantamento
Jean Trad - violão
Carlito Rodrigues - baixo
Jonas Moncaio - violoncelo
Tata Fernandes e Nô Stopa - Vocal
As Canções do Meu Embornal
Jean Trad - violões
Carlito Rodrigues - baixo
Carneiro Sândalo - percussão
Adriano Maggo - acordeon e teclados
Tata Fernandes, Nô Stopa, Jean Trad e Carneiro Sândalo - Vocal
Diários de Bicicleta (o dia que encontrei Chê Guevara na zona em Valadares)
Jean Trad - violão e guitarra
Hamiltom Griecco - guitarra slide
Carlito Rodrigues - baixo
Carneiro Sândalo - bateria
Adriano Magoo - acordeon
Porra Mano!
Jean Trad - violão e guitarra
Carlito Rodrigues - baixo
Carneiro Sândalo - bateria e percussão
Adriano Magoo - teclados
Tata Fernandes e Nô Stopa - Vocal
A Fé
Zé Geraldo - violão
Jean Trad - violão
Carlito Rodrigues - baixo
Carneiro Sândalo - percussão
Adriano Magoo - teclados
Tata Fernandes, Nô Stopa, Jean Trad e Carneiro Sândalo - Vocal