Catadô de Bromelias - 2008

Catadô de Bromelias - 2008

Na Barra do seu Vestido

(Zeca Baleiro / Zé Geraldo)

Qualquer dia desses vou descer as ruas  

vou entrar nos bares

vou beber os mares

pra criar coragem e te procurar

vou pela Fradique cantando um bolero

feito um Valdick gentil e sincero

coração errante que só quer amar

desço a Purpurina onde a tarde brilha

sobre a minha sina sol e maravilha

com o peito em brasa 

desejando brisa

na rua Harmonia escrevo um poema

o céu é um cinema

quando finda o dia

 

sou bailarino gira mundo

poeta sem endereço

assustado e vivido

um menino encantado

que sonha viver pra sempre

na barra do seu vestido

 

 

(Fradique Coutinho, Purpurina e Harmonia, ruas da Vila Madalena, bairro de São Paulo (SP), onde residem os autores)

 

 

Last Station Before New York

(Zé Geraldo)

Eu era menino

e puxava meus carrinhos pelas ruas

e como a maioria   dos meninos brasileiros

alimentava o sonho de um dia

vir a ser caminhoneiro

rodar pelo estado

conhecer meu país

bater asas, ganhar o mundo

eu não sei onde foi que embarquei

só sei que quando acordei deste sonho

eu estava aqui NY

last station before NY

 

o dia tá quase chegando

na boleia do meu caminhão

enquanto esquenta o motor

eu tô parado do lado de cá   da ponte

daqui dá pra ver a cidade acordando

sinto pulsar o coração do mundo

mas o cenário não é mais o mesmo

de quando eu cheguei

as torres não estão mais ali

intolerância , ignorância

a violência do homem quis assim

 

não dá pra parar

tenho que seguir

ainda trago muitas dores

que preciso resolver

outro dia mesmo eu chorei

caminhando pelo Central Park

eu chorei só de pensar na dor

de perder o meu amor

pra um plebeu ou para um rei

plebeus e reis

fariseus e gays

índios, amarelos 

brancos, negros, moicanos,

pardos, mulatos, mestiços

malucos , mendigos, palhaços,

guerreiros de todas as tribos

aqui é a esquina do mundo

o mundo é de todos nós

 

na boleia do meu caminhão

em qualquer lugar

sou um cidadão

às vezes penso em voltar

às vezes penso em ficar

por aqui NY

last station before NY

 

 

Catadô de Bromélias

(Zé Geraldo)

Cansei da vida na cidade

meu diploma

minha faculdade perderam valor

desemprego chegou

vou voltar pro lugar

donde nunca eu devia ter saído

volto hoje um ilustre desconhecido

vou bater de porta em porta

procurar emprego

na porteira da fazenda 

vou me apresentar

meu nome é José

sou carpinteiro

assim como José

o primeiro

 

eu faço alguns biscates

sei limpar lavoura sei catar café

eu ando a pé quantas léguas for

pra buscar qualquer coisa pro senhor

domingo de sol

levanto bem cedim

não vou ficar que nem na cidade

quando eu passava o dinterimbebim

vou entrar no mato

vou catar bromélias

pra enfeitar o seu jardim

 

de noite eu vou pro terreiro

tem mulher bonita

tem violeiro

quem sabe eu encontre um coração aberto

que ainda queira ter por perto

um catadô de bromélias

um simples sonhador

de paixão e alegria

vou fazer festa pra ela até romper o dia.

 

 

Última Reza

(Nô Stopa)

na última reza do dia

noturna oração

dormi sobre seu nome

sonhei seu sobrenome

mãos dadas com o meu

fincados desde a roupa

até a ponta da raiz

 

água morna molha a pedra

dura e fria

adormece sua ira

volte sua ida

bruta pedra

pra enfeitar o anel

o anel que tu me deste

era vidro e não se quebrou

segue intacto o amor

segue intacto o amor

 

 

 

Mr. Tambourine Man

(Bob Dylan / versão Zé Ramalho / adaptação Zé Geraldo)

Ei mr tambourine man

toca uma canção

tô sem sono e não tenho para onde ir

ei mr tambourine man

toca uma canção

que me deixe flutuando pelo mundo

 

nesta mágica viagem

que me leva pelo céu

entre estrelas de papel

pelo céu da minha boca vou cantando

em nuvens de fumaça

feito um novelo de lã

estou pronto pra partir

seja pra qualquer lugar

quero esquecer o hoje

e quem sabe o amanhã

 

ei mr tambourine man

toca uma   canção

quero flutuar em   notas pelo mundo

ei mr tambourine man

toca uma canção

tô sem sono e não tenho para onde ir

 

feito um lobo solitário

a vagar dentro da noite

pelos cantos onde eu ando

entre errantes e vadios

entre loucos delirantes

um bando de sozinhos

é com eles que eu divido

a minha solidão

é com eles que eu posso

abrir o coração

mostrar minhas fraquezas

falar da minha busca

perdido na multidão

à espera de um sinal

à procura de um olhar

que possa me mostrar de novo a direção

 

Ei mr tambourine man

toca uma canção

tô sem sono e não tenho para onde ir

ei mr tambourine man

toca uma canção pra mim

to sem sono e não tenho para onde ir

 

 

Encantamento

(Zé Geraldo)

o brilho no olhar

no primeiro momento

uma grande ternura

envolve o pensamento

às vezes é alivio

às vezes é tormento

um dia é sorriso

no outro é lamento

 

quando vira paixão

trás versos com o vento

é força para o corpo

pra alma é alimento

cresce e desabrocha

no mais forte sentimento

 

bem mais forte que a paixão

assim me disse o vento

mais forte que a paixão

é o encantamento

 

 

As Canções do Embornal

(Tavares Dias/ Zé Geraldo)

Saudade da estrada

da moça e da massa

da musa, do mano

da ginga e do gol

oh! Vida parada

sem rima e sem graça

à pé na estação

onde o trem já passou

 

mês que vem 

que dia foi o que é que manda?

sem beijo na boca

sem verso e sem cor

a canção me ronda

me olha de banda

vai brotar na boca

de outro cantador

 

por todas as vilas

por todas as trilhas

por onde a amor

meu peito alumiou

um dia de novo

se encante o poeta

se faça de novo

o poeta um cantor

 

que as horas vividas

de mais claro prumo

por entre os extremos

do doce e do sal

me possam repor

esta lira no rumo

das canções que um dia

tirei do embornal

 

as canções do embornal

que um dia eu cantei

As canções do embornal

que ainda hei de cantar

 

 

 

Diário de Bicicleta (o dia que encontrei Che Guevara na zona em Valadares)

Eu vinha pedalando pelas ruas

da zona em Valadares

de repente

e ncontrei na esquina tomando umas

o Birú, Don Teixeira, 

o Baleiro, o Crésio, o Tavares

um homem barbudo

com um cigarrinho

que passava de mão em mão

eu cheguei, me aproximei, tomei um trago

e falei: ô trem bão

e passei

o homem barbudo

contava historias de batalhas

falava de guerras, falava de paz

“hás de endurecer sem perder a ternura jamais”

 

saímos pela noite

dançamos, bebemos, fumamos

e andamos à esmo

por ruas esquinas e becos

e por ali mesmo

na porta dum boteco

um maluco cantava Raul Seixas

com um violão sem cordas

desfiava suas queixas

o homem barbudo tomou todas

se encantou com uma chica

e completamente borracho

pegou o violão e cantou

 

mi querida

pasé toda mi vida

a procura de ti

Yo soy un hombre sincero

Te quiero mucho, te quiero

Pero tengo que partir

 

o dia estava amanhecendo

os raios de sol escorriam pelas ruas

cada um de nós pegou sua bicicleta

o homem barbudo olhou serio pra mim e disse:

agora vou falar como tu, cara

meu nome é Che Guevara

esqueça o seu carnaval

vem comigo pra América Central

fazer a revolução!

 

e eu, assustado, medroso e cagão

falei: uai sô, vou não

uai Che, vou não

aqui ta ruim mas ta bão

tem frango com quiabo

tem mulher bonita

uma cachaça boa

meu time é campeão

vou não Che

boa sorte Che

uai sô, vou não

 

 

Porra Mano!

(Zé Geraldo)

Eu acredito piamente em Deus

não consigo mais acreditar nos homens

 

o homem

outrora único animal inteligente

se especializou em fazer guerras

invadir, matar, destruir

tanto faz

pelas ruas do oriente 

numa esquina do ocidente

tanto faz

se mata em nome de Deus

se morre em nome da paz

 

eu vi no jornal e na televisão

um cidadão formado numa grande universidade

alto QI

eu vi

no jornal e na televisão

o cara mostrando sua ultima invenção

uma arma moderna com alto poder de destruição

pra que? Pra matar seu próprio irmão

 

eu acredito piamente em Deus

não consigo mais acreditar nos homens

 

cada dia mais e mais

mulheres, crianças, velhos e moços

defendem seu pão

arrastando   carroças pelas ruas do país

e bem aqui embaixo do nosso nariz

um pobre coitado dormindo na rua

é atacado e morto a paulada

de tocaia em plena madrugada

porra mano

porra mano

 

 

A Fé

(Zé Geraldo)

Tá na prece do cristão
na festa do padroeiro
tá nas velas que iluminam
os caminhos do mosteiro
Acompanha os peregrinos
todo ano a Juazeiro
tá na roda das carretas
na cabine do caminhoneiro

Rola pelas rodovias
que nos levam a Aparecida
tá com a dona de casa
todo dia em sua lida
Muitas vezes explosiva
outras vezes reprimida
é a companheira do operário
em sua luta pela vida

Tá no verso do poeta
nas trovas do cantador
nas palavras do profeta
no peito do trabalhador
Tá no pranto de quem chora
na alegria e na dor
Tá à espera de braços abertos
no alto do Redentor

Tá na força do destino
nas ruas e na prisão
tá na festa do Divino
na fogueira de São João
No sorriso do menino
tá no gesto do ancião
tá na chuva na cidade
tá na seca no sertão

Tá na reza dos fiéis
no ato dos governantes
tá presente nos bordéis
no encontro dos amantes
Tá nos livros e papéis
na cabeça do estudante
na esperança dos que chegam
na ilusão dos retirantes

Muito dela tenho ouvido
e dela tenho falado
por ela se tem morrido
por ela se tem matado
Todo povo oprimido
não se esquece do ditado:
Povo que vive sem fé
é um povo abandonado

 

Ficha técnica

Músicos

Na Barra da Saia do Seu Vestido

Jean Trad - violão

Tuco Marcondes - violão e dobro

Carlito Rodrigues - baixo

Carneiro Sândalo - bateria

Adriano Magoo - teclados

Last Station Before New York

Jean Trad - violão e guitarra

Hamilton Griecco - guitarra

Carlito Rodrigues - baixo

Carneiro Sândalo - bateria e percussão

Adriano Magoo - teclados

José Carlos Coveli - violino

Vocal - Tata Fernandes; Nô Stopa; Jean Trad e Carneiro Sândalo

Catadô de Bromelias

Zé Geraldo - violão

Jean Trad - violão

Carlito Rodrigues - baixo

Carneiro Sândalo - percussão

Adriano Magoo - acordeon

Última Reza

Jean Trad - violão

Carlito Rodrigues - baixo

Carneiro Sândalo - percussão

Adriano Magoo - acordeon

José Carlos   Coveli - violinos

Tata Fernandes e Nô Stopa - Vocal

Mr. Tambourine Man

Jean Trad - violões

Hamilton Griecco - gaita

Carlito Rodrigues - baixo

Carneiro Sândalo - bateria

Adriano Magoo - teclados

José Carlos Coveli - violino

Vocal - Tata Fernades, Nô Stopa, Jean Trad e Carneiro Sândalo

Encantamento

Jean Trad - violão

Carlito Rodrigues - baixo

Jonas Moncaio - violoncelo

Tata Fernandes e Nô Stopa - Vocal 

As Canções do Meu Embornal

Jean Trad - violões

Carlito Rodrigues - baixo

Carneiro Sândalo - percussão

Adriano Maggo - acordeon e teclados

Tata Fernandes, Nô Stopa, Jean Trad e Carneiro Sândalo - Vocal 

Diários de Bicicleta (o dia que encontrei Chê Guevara na zona em Valadares)

Jean Trad - violão e guitarra

Hamiltom Griecco - guitarra slide

Carlito Rodrigues - baixo

Carneiro Sândalo - bateria

Adriano Magoo - acordeon

Porra Mano!

Jean Trad - violão e guitarra

Carlito Rodrigues - baixo

Carneiro Sândalo -   bateria e percussão

Adriano Magoo - teclados

Tata Fernandes e Nô Stopa - Vocal 

A Fé

Zé Geraldo - violão

Jean Trad - violão

Carlito Rodrigues - baixo

Carneiro Sândalo - percussão

Adriano Magoo - teclados

Tata Fernandes, Nô Stopa, Jean Trad e Carneiro Sândalo - Vocal